novembro 8, 2009

"1989 o ano que mudou o mundo"…

Posted in Comentários Blogs amigos, Meus textos, Meus textos; Economia às 11:49 pm por espacointuicao

Por Joandre Oliveira Melo

Há algum tempo atrás escrevi um texto baseado em um artigo da Folha de S. Paulo sobre a queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O texto apresentava uma breve consideração sobre o que eu pensava sobre a queda de um pseudo-socialismo, se me permitem. Considero que na Rússia nunca foi implantado realmente o socialismo pregado por Marx. Ainda penso que deveriamos debruçar-nos sobre a obra do grande filósofo para fazermos uma (re)leitura do sentido filosófico de socialismo para Marx.

Amanhã, no entanto, comemoramos os vinte anos da queda do muro de Berlim. Construído em 1961 para dividir as possessões Soviéticas das Ocidentais (EUA, Inglaterra, França). No lado leste (oriental) estabeleceu-se a República Democrática Alemã – RDA; instalou-se ali, um regime mais duro, uma moeda forte sustentada pela atual Rússia e o sistema político baseado no Socialismo. Do lado Oeste, portanto Ocidental, a República Federativa Alemã –
RFA (nunca consegui entender bem porque a Democrática era a Socialista). Essa dicotomia sustentou-se – utilizando-se da força do exército da RDA – até 1989, quando já desgastado, o Socialismo não mais pôde conter os conflitos e a essência do muro ruiu, literalmente. Estava aberta a “cortina de ferro” e alguns meses depois foi a vez do Socialismo e da União Soviética sucumbirem.

Certo do que aconteceu realmente, não estou, já li várias interpretações. Observo, porém que a queda da alternativa socialista e o cessar do conflito entre a dicotomia Capitalismo-Socialismo, deixou-nos à mercê das forças do mercado, corroborando para fortalecer a tese do liberalismo. Ocorre que, findo as tensões, os problemas não se resolveram, as crises do Capitalismo continuam – lembre-se da atual – e a diferença entre ricos e pobres só aumentou.

Em um mundo sem alternativas e com a esquerda destroçada, não temos outra alternativa a não ser rendermos ao mercado. Será este o nosso fim, transformarmos em coisas errantes, com preços mensuráveis?

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(*) A foto acima e mais notícias sobre a queda do Muro de Berlim e do Socialismo, disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/murodeberlim/2009/11/05/queda+do+muro+anunciou+derrocada+da+uniao+sovietica+dizem+especialistas+9010072.html, 08/Nov/2009 22:19.

outubro 31, 2009

Pará de Minas, meu amor 150 anos de histórias e estórias

Posted in Divulgação, Meus textos às 1:45 pm por espacointuicao

No dia trinta de outubro de 2009, foi lançado oficialmente o livro: Pará de Minas, meu amor 150 anos de histórias e estórias.

Sem dúvida uma grande compilação das reminiscências e dos fatos de pessoas que viveram suas vidas na, sem dúvida, mais agradável cidade do Brasil: Pará de Minas.

Esta obra escrita a várias mãos é parte integrante das comemorações do sesquicentenário de Pará de Minas.

Pará de Minas, meu amor. terra de pessoas singulares, ordeiras, pacíficas. Nesta terra vivi e viverei o resto de minha vida e quando já não a tiver mais, meus restos se juntarão para sempre ao humus fecundo desta terra. Assim, Talvez, algo de mim fará parte de algumas das criaturas que são livres e que livres voam pelos recantos da bela Pará de Minas.

Por Joandre Oliveira Melo
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(*) Capa do livro: Pará de Minas, meu amor. 150 anos de histórias e estórias.

O livro que fala por si só…

Posted in Meus textos às 1:28 pm por espacointuicao

O livro é, talvez, a maior invenção humana. Nas páginas de papel de um livro ou na páginas digitais dos modernos livros virtuais, impregnamos com nossa marca.

Um bom livro leva-nos a sonhar, viajar através de suas linhas. Um livro que nos agrada, nos acalma e que nos diz o que queremos é realmente um bom livro. No final encontramos todas as respostas.

Aquele livro que nos incomoda; que o lemos, relemos, lemos novamente, em busca de respostas, mas, não as encontramos, ao contrário, somos arrastados por um dilúvio de dúvidas – Estes, são livros EXCELENTES.

Por Joandre Oliveira Melo.

outubro 20, 2009

História "Contra-factual" em Pará de Minas

Posted in Artigos, História, História do Brasil, Meus textos às 3:56 am por espacointuicao

Por Joandre Oliveira Melo


A primeira lição que os historiadores e professores de História recebem na graduação é: “Na História não existe, Se…”. É óbvio, pois, o historiador trabalha, preferencialmente com fatos, algo que aconteceu e que pode ser sentido e interpretado. Aquilo que não fazemos ou, apenas imaginamos, não altera o curso dos acontecimentos como um todo. Para o historiador atual, cada pessoa é como uma pedra atirada em um lago de águas tranquilas; ao tocar a superfície, um conjunto de ondas espalha-se por todo o espelho d’água, em todas as direções. Arremessando mais pedras, as ondas provocadas pelas colisões com a água, sobrepõem-se interagindo com as anteriores em uma movimentação frenética e única.

Nossa breve analogia demonstra as ações solitárias de cada indivíduo interferindo no todo maior: a sociedade. Logo, se você segura algumas pedras e não as atira contra a água, a sua ausência interferirá no sistema, pois as pedras não foram atiradas, apesar de existir no grupo, assim, não interagirá com o todo: o meio social.

No entanto, você pode se perguntar: – E se as pedras fossem atiradas ao lago, no meio de milhões, faria alguma diferença? Seria suficiente para alterar o balé das ondas? A resposta seria: sim. Assim, de acordo com a analogia apresentada, seria possível escrever a História definitiva de um povo ou uma nação? A resposta, segundo o preclaro e longevo historiador, Eric Hobsbawm, seria: “não”, pois, “(…) cada geração faz suas próprias perguntas sobre o passado(…)”(HOBSBAWM, Eric. Sobre a história, São Paulo: Cia. Das Letras. 2002, p. 256).

Com efeito, não podemos fazer uma História definitiva, mas isto não invalida a atividade séria das pesquisas, nem desclassifica a História enquanto ciência. Porque, acompanhando o pensamento de Hobsbawm, os historiadores podem chegar a algum consenso em relação à interpretação dos fatos. Logo, do consenso, nascem teorias.

Hobsbawm exemplifica analisando um fato: A revolução Russa. Para ele, a Revolução Russa – processo histórico que culminou com a tomada do poder das mãos do Czar, na Rússia, em 1917, pelos Bolcheviques – tem pelo menos duas histórias entrelaçadas: A primeira, como os Russos enxergaram a revolução, sendo atores do processo. A segunda, é o sentimento do resto do mundo, que passou a viver uma polaridade ideológica, após o passagem do Czarismo para o Socialismo. Ele ainda especula enumerando possíveis situações: “Era inevitável uma Revolução na Rússia? O Czarismo podia ter se salvado? E se Lênin não tivesse voltado para a Rússia?”. As questões propostas são apenas algumas situações imaginadas por Hobsbawm. Elas não podem, no entanto, ser respondidas, pois, especulam sobre possibilidades; destarte, não haverá um consenso sobre as respostas, apenas suposições.

Kennet Maxwell, notável historiador brasilianista, é outro a aventurar-se pelo caminho do contrafactual. Para ele a História do Brasil não permite “leituras convencionais”, ou seja, as interpretações convencionais não conseguem explicar o processo histórico brasileiro, por isso, “(…) é sempre necessário pensar um pouco de forma contrafactual”.

Maxwell, escrevendo para a Folha de S. Paulo, analisa o processo singular da História Brasileira. Ele alega ser impossível encaixar a História do Brasil em interpretações ortodoxas; por isso, é importante pensar “um pouco de forma contrafactual”. Prossegue Maxwell, referindo-se ao processo de independência dos países da América Latina. Enquanto na América Espanhola houve um rompimento com as metrópoles européias, no Brasil houve uma continuidade.

Analisando a Inconfidência Mineira e a vinda da corte portuguesa para o Brasil, Maxwell conclui que esses fatos concorreram para a emancipação do Brasil. No entanto, Tiradentes tentou mudar a História, mas foi D. João quem o fez. Conclui Maxwell: “Será que o Brasil teria se saído melhor, caso Tiradentes tivesse triunfado?”

E sobre os acontecimentos em nossa região? Será que poderíamos usar uma abordagem contrafactual para imaginarmos outras alternativas? Ou será que não? Por exemplo, tomemos um fato: a demolição da antiga Matriz. Esse acontecimento, provavelmente, proporcionaria ardentes debates. Muitas hipóteses poderiam ser levantadas se fizéssemos as perguntas ao passado: – Será que a antiga Matriz de Pará de Minas, construída em inícios do século XIX e reformada por várias vezes, necessitava ser demolida? Não haveria como mantê-la erguida? Seria possível conviver o antigo e o moderno? O que a Matriz simbolizava esfacelou-se junto com suas paredes? E a fé do povo de Pará de Minas, foi afetada com o fato da demolição? Como vêem, serão infinitas as hipóteses, porém, impossível de ser respondê-las ou de haver um consenso sobre o seu desfecho.

Enfim, definitivamente, o historiador não pode, embora, busque com veemência fazê-lo, apresentar uma abordagem conclusiva para os fatos históricos. Ele não tem todas as respostas; mas, pode fazer todas as perguntas.

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Texto publicado no Jornal Diário de Pará de Minas na Coluna do Projeto Resgate Histórico.

História "não-factual" e "contra-factual"

Posted in História, Meus textos às 3:37 am por espacointuicao

Por Joandre Oliveira Melo

Há algumas semanas escrevemos sobre a abordagem de alguns historiadores relacionada com a história “contra-factual”; ou seja, é a liberdade do historiador em divagar sobre os fatos, como resultados das circunstâncias e ações anteriormente criadas, e, que, por outro lado, poderiam ser diferentes ou, até mesmo, não existirem.

Simplificando: são suposições sobre a objetivação dos fatos; caso algo diferente tivesse acontecido, distorcendo ou mesmo inviabilizando os seus desfechos.
Mas, como em história suposições não têm a força dos fatos, esse exercício fica restrito àquele que estiver analisando o fato.

Pois bem, Paul Veyne, renomado historiador e escritor francês, amigo de Michel Foucault, outro grande ícone da elite intelectual francesa e célebre por suas teses baseadas na historiografia, aborda em sua obra – “Como se escreve a História” – um conceito interessante e até certo ponto pode confundir-nos com o que foi escrito acima. Seguindo a tradição da “escola dos Annales”, o nobre historiador, conceitua o que considera história “não-factual”. O “não-factual” aproxima-se do “contra-factual”, por não termos consciência do evento. Tanto na abordagem “contra-factual” quanto a “não-factual” não reconhecemos os fatos. Por outro lado, na abordagem “contra-factual” tenta-se, através de especulações, idealizar um novo desfecho para o fato, tornando-se extremamente difícil um consenso sobre o que poderia ter ocorrido. Logo, esta abordagem não poderia tomar corpo como uma teoria.

A abordagem “não-factual” de Veyne, no entanto, é sobre eventos cuja existência não temos consciência. De acordo com Veyne; “(…) o não-factual são eventos ainda não consagrados como tais: a história das localidades, das mentalidades, da loucura ou a procura da segurança através dos tempos. Denominar-se-á, portanto, não-factual a historicidade da qual não temos consciência como tal (…)”(VEYNE, Paul M. 2008: p29).

Destarte, de acordo com a abordagem de Veyne, os fatos do cotidiano, apesar de sua fecundidade e sua interferência no processo histórico, não são contados. Assim; o beijo do amante apaixonado, as juras de amor dos namorados, a casa antiga tombada para atender aos interesses econômicos, a floresta queimada para economizar o trabalho braçal e que servirá de pasto, o ziguezaguear solitário do carteiro que lhe traz a correspondência, os cultos dos finais de semana ou o sofrimento do pedreiro na construção de uma nova casa para alguém . Uma aparente infinidade de eventos sem valor, contudo, com grande repercussão no processo histórico de um local ou de uma região. Alterando as relações entres seus indivíduos e sua maneira de pensar.

Os acontecimentos por mais restritos que sejam influenciam no todo. Só que alguns historiadores consideram apenas o todo ou como diz Veyne: Eles reconstroem uma “História-Tratados-e-Batalhas”. A história da humanidade, no entanto, não se limita apenas a esta visão macro, ou pelo menos não deveria se limitar. Conforme Veyne: Pois, a cada dia, a cada movimento, ação, idéia estamos contribuindo para a construção da história não só de nosso local, mas interferindo no curso da história de toda a humanidade. O consenso sobre estes fatos no modelo historiográfico dos ANNALES e, exposto acima, é plenamente atingível e está sendo considerado cada vez mais pela nova leva de historiadores atuais.

Vejam o poder de nossas ações. A história não transcende o homem, mas é fruto da ação de todos…

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Baseado em:
VEYNE, Paul Marie. A noção de não-factual. In.: Como se escreve a história; Foucault revoluciona a história. Trad. de Alda Baltar e Maria Auxiliadora Kneipp. 4ª ed. Brasília: Editora Universidade de Brasil, 2008. pp. 28-29

outubro 3, 2009

Prelúdio à primavera

Posted in Meus textos às 1:47 am por espacointuicao

Joandre Oliveira Melo

Hoje o Céu escureceu. O sol ainda estava a pino e uma enorme nuvem negra, vinda dos lados de nossa vizinha Itaúna, cobriu a sua luminescência, trazendo as primeiras chuvas depois do inverno; prelúdio à primavera.

O inverno ainda não findou, mas já começa a enfraquecer-se e a ceder lugar ao perscrutar de mais uma primavera que nos enche de alegria e esperança.

A época das flores, da renovação da ramaria dos arvoredos, avizinha-se. Doces odores já espalham-se pelo ar quente, parece saudar a próxima estação.

Os pássaros já pressentem a aproximação da primavera; entoam seus cantos multicores. Uma sinfonia de sons: arrulhos, chilros, silvos.

Mas a nuvem negra permanece intacta, balofa, prestes a se arrebentar – encheu-se com o calor, sugando as águas do São João e outros arroios que encontrou no caminho enquanto crescia – anuncia a primeira chuvarada, o calor sufoca e faz as primeiras gotas precipitarem-se quentes, pesadas. Despencam inclinadas pelo vento que sopra forte.

Subitamente, tudo se cala ou é suplantado pelo estrondo do choque das maciças e quentes gotas que se desfazem ao chocar-se com o solo duro e ressecado. Os raios comemoram como serpentinas e iluminam o dia que parece ter virado noite. E a nuvem escura desfaz-se aos poucos, entregando-se entre lágrimas e soluços toda a sua existência. Em breve toda a negritude pavorosa se transformará em um néctar que irromperá pelos sulcos da terra até às suas entranhas quentes e escuras; e, alimentará o submundo das raízes e sementes esquecidas. Trará à superfície novamente a vida. A vida que a sequidão e o sopro gélido do inverno roubaram.

Solitário, distante de todo esse maravilhoso espetáculo, aqui estou, preso em meu escritório, completamente seco e indiferente ao que acontece lá fora. Apenas penso nas informações que se sobrepõem com a rapidez alada da nova geração de redes de computadores. Vejo apenas a tela colorida artificialmente por luzes criadas por led’s – invenções humanas – dispostos simetricamente a criar imagens às quais respondo com frenéticos cliques do meu mouse. Neste mundo plástico, artificialmente colorido, matematicamente construído, vivo a ferros. E a bela e grandiosa ópera que se apresenta lá fora, é-me completamente indiferente.

No entanto, algo me alegra. Ao olhar, por um momento, pelo vidro da janela, açoitado pelas rajadas de gotas – como projéteis cuspidos por metralhadoras – observo um ipê a desfolhar-se. Vejo suas flores amarelas, prematuras, arrancadas impiedosamente; mas, junto com as flores sacrificadas vejo pequeninos embrulhos, observo com maior cuidado e assevero-me que são pequeninas sementes cuidadosamente embaladas em um invólucro de celulose transparente, vestidas para brotar. Arrancadas impiedosamente pelo temporal seguem tácitas em meio à barrenta enxurrada para cumprirem o seu destino…

agosto 15, 2009

Apologia à "Primeira Pedra"

Posted in Meus textos às 10:38 pm por espacointuicao

Joandre Oliveira Melo

Na última sexta-feira, lendo a coluna da preclara escritora Ana Cláudia, ilustre ocupante de uma cadeira na Academia de Letras de Pará de Minas, no Jornal Diário – o que faço frequentemente, principalmente as colunas dos escritores de Pará de Minas – deparei-me com a opinião da nobre escritora sobre as acusações que pesam sobre alguns políticos brasileiros, onda que espalha-se e encontra ressonância nos espíritos do sofrido povo brasileiro, e traz consigo indignação e o desprezo pela política e assuntos afins e, que tanto mal tem trazido para o povo, aquele que vota e acredita que as coisas melhorarão.

As sóbrias palavras da escritora encontraram eco em minhas convicções de que existe em nós uma maquiavélica cultura de fazer ou ver o outro sofrer. Não é preciso lembrar as famosas “vídeo-cassetadas” apresentadas por uma grande e poderosa emissora de TV ou as não menos bárbaras pegadinhas veiculadas em outras emissoras. Ainda, a onda de desespero e desalento com a política e os políticos que a fazem, parece legitimar uma situação de revanchismo levando as pessoas a agirem por contravenções, justificando-se que aquilo que sonegam, será inevitavelmente apropriado indevidamente por homens inescrupulosos e que, na posição que ocupam, deveriam defender o povo, pois foi por esse povo investido do poder que ora usufruem.

Tal é o clamor da escritora quando indaga: “(…)Em pequenas proporções todos nós somos corruptos. Quem não quer levar vantagem no seu dia-a-dia? Quem devolve um troco recebido a mais? Quem não utiliza um jeitinho de anular uma multa? De ter um lucro a mais? De fazer prova olhando uma ‘colinha’? De usar influência para arrumar um emprego para um familiar ou amigo?(…)”. Ora tudo isto é bem verdade e passam despercebidos em nosso cotidiano. Gostaria, continua a escritora, de ver um senado moralizado, um povo cumpridor das suas obrigações, mas, sobretudo críticos e exigentes em relação à uma postura responsável dos políticos.

O desejo da nobre escritora é realmente legítimo, está velho e desgastado; não se deve, contudo, esquecê-lo. Sabemos do poder do mercado. As relações mercantilistas forjadas durante séculos não se dobram tão facilmente aos discursos e nem ao capricho dos nossos desejos.

No entanto, pesam sobre nossos ombros essa situação vil que nos acomete. Embora o processo histórico seja decisivo, não é permanente e nem imutável nossa condição. Não existe um sistema soberano, além dos desejos e das ações dos homens; eles o criaram, mas se esquecem disto e consideram-no transcendente à sua vontade Retomando, nossa posição é decisiva diante das situações, corrigindo nosso modo de ser: pensando em comunidade e não apenas em si ou pessoas da nossa familia. É preciso romper as barreiras e experimentarmos a liberdade de podermos considerar nossa família, todos aqueles que estão próximos a nós nos momentos de nossa vida. Podemos “pensar globalmente e agir localmente”. É preciso, baseando-me na eminente escritora, quebrar os grilhões da individualidade.

Por outro lado, o enfraquecimento dos meios de comunicação, sérios – que hoje vivem de escândalos, do apelo à sexualidade e das desgraças que acometem a sociedade -, em parte por nossa ausência de crítica, por essa cultura provinciana da (des)informação, do culto aos processos alienantes (futebol, a cerveja, à vida encerrada em nossas casas, nossos sítios e nos computadores). Mas, também pelo processo globalizado, pela modernização e disseminação da informação como produto do mercado através da Internet e dos fabulosos meios de comunicação modernos. O atual estado degradante dos meios de comunicação sérios levou o grande filósofo da atualidade Jürgen Habermas a propor a estatização de tais meios como solução.

É visível, que as dificuldades da modernidade, fizeram os jornais e revistas sérios curvarem-se ao poder do mercado transformando-se em apenas Meios de Comunicação de Massa. Esses Meios agora podem trabalhar a favor do capital e das elites, legitimando sua posição, levando-nos à massificação e alienação. Já ouviu-se o clamor de alguns de que vivemos de escândalos em escândalos. A mídia empresta seu poder ao seu verdugo para a manipulação das intenções do povo e, de acordo com os interesses, um a um os escândalos são esquecidos, são substituídos por outros mais recentes até não serem mais lembrados.

Resumindo, encontro dois problemas principais que concorrem para a atual situação degradante, além do processo histórico que não está em questão aqui, tendo em vista que disse ser algo mutável através de nossas ações. O primeiro é o nosso desinteresse para com as coisas públicas, com as nossas instituições. A alienação degradante do povo brasileiro que se deixa levar ao sabor da manipulação do mercado. Nosso desinteresse pelo outro. O segundo é o mercado e sua visão individualista de mundo. O segundo influencia o primeiro que alimenta e perpetua o segundo.

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Referências
SALDANHA, Ana Cláudia. A primeira pedra. publicado no Jornal Diário em 14 de agosto de 2009. p. 8

agosto 3, 2009

Devaneios de uma noite sem dormir…

Posted in Meus textos às 1:09 am por espacointuicao

Joandre Oliveira Melo

Vocês já passaram por aquelas intermináveis noites, quando não conseguimos dormir e, irritados com o dia amanhecendo e a hora de se levantar para trabalhar aproximando-se, a cada toque do despertador sobre o criado-mudo – com seu tic-tac insolente que parece zombar de nosso infortúnio, adentra a madrugada? Você sabe que o cansanço abaterá sem piedade durante as longas horas de trabalho no dia seguinte.

Numa dessas terríveis noites, que me acometem frequentemente, comecei a pensar sobre mim. Sobre o que eu poderia ser, o que estaria escondido dentro de mim e além de mim; o quanto de mim vibrava lá fora. Enquanto pensava, ouvia, ao longe, o criquilar de um grilo; parecia o som de um ser galhofeiro. Será que está ele também a galhofar do meu sortilégio ou sou eu quem atribuo essa qualidade ao seu canto? Pobre grilo; está apenas a passar o tempo até o findar da noite.

Era uma noite sem lua e a escuridão envolvia a cidade que dormia, alheia aos meus sentimentos. Era noite na cidade, independente do que pensasse ou desejasse; era só a noite, e eu numa angústia nietzcheniana. Logo, acudiram-me os pensamentos noturnos. Pensei na dama da noite, senhora suprema da escuridão: assim concebia a morte.

E a noite vazia dos ruídos do dia, apenas aquele som irritantemente agudo daquele grilo galhofeiro, trazia-me à mente os atores do teatro das sombras, cuja a atriz principal é a morte.

É interessante a idéia de que exista algo além da morte; não sei se é idéia ou necessidade. De outro modo caimos no existencialismo: – Existo; e sei que existo, porém, caminho para o nada. Apenas a existência me basta.

O que me angustia é que eu sei que existo e caminho para a morte, eu tenho consciência disto; porém não posso, da mesma forma, saber (comprovar) que haja algo além da morte. Talvez por que não haja, ou talvez por que consciente da minha existência e tão apegado a ela, não consiga idealizar outra existência ou estado que não este, do qual sou prisioneiro.

As paixões me movem pela vida afora. o medo do definitivo traz tanto terror quanto o relativismo da mudança. No entanto, o definitivo na vida é a constante mudança e, só assim, observando e sentindo as mudanças é que tenho consciência que existo. Afinal só quem existe muda; quem não existe, é definitivo.

O que não daria para poder tocar, sentir ou entender o que está além. Se sou poeira de estrelas, se sei disto porque tenho consciência, logo faço parte dele (Universo); e, se torno-me parte consciente, não passo de apenas uma parte dele pensando sobre si mesmo. Assim, não existo, senão em potência.

Me vem à memória algo que li em Hegel, antes de dormir, quando explana sobre o ser-em-si e o ser-para-si. Se sou, – porque sei que existo e ouço o grilo criquilar – e tenho consciência de mim, eu sou eu e o universo é o universo. Mas, se sou parte dele, enquanto poeira de estrela e o universo é o todo, em mim está a parte. Mas, não sou apenas a parte mais minúscula e desprezível do todo, pois, eu sou um ser-para-si. Neste mesmo terreno onde ergue-se a materia do todo, deste mesmo chão que me sustenta, brotam todas as coisas; inclusive eu. Mas eu as conheço e as compreendo e sei que não estou nelas; é como se eu fosse eu e as coisas elas mesmas. Estar consciente de mim torna-me algo diferente para as coisas como as coisas o são para mim.

Além das coisas, além da consciência-para-si, existe o nada. Apenas o nada. E o nada não existe por si só. Do nada não se pode extrair a consciência. O nada não pode pensar em si mesmo Ele não é-para-si.

Para se ir além, é preciso assumir que eu existo e continuarei existindo como parte do todo sem cair no abismo do nada. Mas, se só posso conceber, devido a minha existência “natural”, aquilo que é considerado “natural”, logo, o nada não pode ser concebido (pensado), porém, a sua existência antecede a existência do todo: ou será que o nada é apenas a não existência do todo.? Isto o torna também parte do todo.

junho 19, 2009

Aos meus alunos com carinho…

Posted in Meus textos, Meus textos; Homenagem às 12:39 am por espacointuicao

O que escrevo abaixo não poderia retribuir a homenagem a mim prestada por meus alunos de Sociologia da Escola Estadual Zico Ferreira, em Torneiros, ao fim do meu período em substituição à professora efetiva. Seria como comentar um clássico de Goethe ou um verso de Homero. No entanto, atrevo-me a grafar as pequenas notas que se podem ler abaixo:


Quando Cheguei…


Quando cheguei, após minha recente conclusão do curso de graduação em História, pensei que encontraria apenas a argila estéril; poços rasos encharcados por uma água salobra e pusilânime. Destarte, era o estereótipo da juventude que trazia na minha mente preconceituosa.


Porém, meus queridos alunos mostraram-me que, por baixo de dura e estéril camada de argila e da terra apodrecida pelas águas que acumulavam em seus sulcos, sem poder penetrar terra adentro, a qual imaginara, deitava uma terra fértil e, ali, sementes tão tenras e saudáveis em doce hibernação, somente esperando que a argila fosse revirada e os charcos drenados, para se abrirem ao calor do sol e enraizarem-se frenética e fortemente ao seio daquele solo acolhedor; nutrindo-se pela dádiva da natureza, espontaneamente doada ao regozijo dos homens e mulheres.


Eram sementinhas com desejos latentes, sonhos joviais e uma irresistível e maravilhosa vontade de viver… Eram como lindas pérolas escondidas em ostras feias… como os diamantes, que vêm da lama…


O meu trabalho seria apenas o de remover e revirar a camada estéril e expor ao mundo aquelas sementes, como outros fizeram comigo, e outros antes destes e antes, durante todo o meu período de vida, até os dias de hoje… Logo vi que as sementes já sentiam a
ponta do arado cortando a argila dura e, antes mesmo que toda a camada sem vida fosse revolvida, já irromperam em um afã maravilhoso! Ainda frágeis brotinhos; porém decididos, a enverdecer a terra sem cor, em riste contra o céu


Daí em diante, meu trabalho se tornou prazer e aprendizado; bastou-me ser como a chuva benfazeja a regar aqueles brotinhos. E toda a terra estéril, logo se tornou uma linda planície verdejante, exalando os mais deliciosos perfumes; uma alegria jovial e uma paz que reinavam.


Assim, aquelas sementes me ensinaram que não basta apenas o sulco do arado, a chuva benfazeja ou o calor envolvente da terra ao sol… basta apenas que a semente seja boa e esteja tenra e saudável para vencer as barreiras que lhe serão impostas. E como eram boas as sementes que encontrei…


Jamais me esquecerei das tenras sementinhas, cheias de vida, repletas de esperança; dos seus sorrisos espontâneos, suas tagarelices incessantes e aquela inquietação, típica dos jovens, que tem a vida inteira pela frente e não se contentam em ser, apenas, testemunhas da História.


Na Escola Estadual Zico Ferreira, lecionei pela primeira vez: lá me ensinaram a ser professor!

Joandre Oliveira Melo, 12 de junho de 2009.

maio 31, 2009

A produção material de uma região

Posted in Artigos, Meus textos às 12:45 am por espacointuicao

Por Joandre Oliveira Melo

Resumo: O texto abaixo foi escrito por mim em 2008 para publicação na coluna do Projeto Acervo Documental Mesopotâmia Mineira – projeto temporariamente supenso do qual sou membro licenciado – publicado no Jornal Diário em 2008. Revisado e ampliado para publicação na coluna do Projeto Resgate Histórico em 26 de maio de 2009.

Resolvi postar o texto no meu blog, embora já esteja postado no site do Projeto Resgate histórico, pois, considero-o um texto bom para exemplificar a teoria de Marx sobre os efeitos do meio sobre a mentalidade dos homens. Ao final encarrego-os de meditarem sobre a proposta de Hegel e Marx.

O texto:
É interessante notarmos como a produção material de uma região influencia todo um modo de vida, direciona a maneira de ver o mundo, o sobrenatural, em que acreditamos e até a forma como atuamos no meio. Cria-se realmente uma cultura, e esse é um ramo da historiografia sobre o qual se debruçam os sociólogos, antropólogos, economistas e, logicamente, historiadores. É preciso, no entanto, adianta o historiador José D’Assunção Barros, examinar não apenas o objeto material (construções, pontes, edifícios, aquedutos, etc.), mas as implicações sociais dessa estrutura material sobre a cultura, a forma de pensar e agir e as técnicas envolvidas na produção e uso das reservas naturais.

karlmarxKarl Marx (1818-1883), em sua obra “A ideologia Alemã”, escrita juntamente com Friedrich Engels (1820-1895), destaca com grande propriedade, como fato histórico e primordial, a tarefa do homem em moldar o ambiente para sua sobrevivência biológica. Essa forma como o homem se reúne e produz a sua existência, determina profundamente as características de um povo enquanto nação ou região. Toda a produção social do homem (religião, cultura, ciência, moda, aparato judicial) se sujeitará, em última análise, ao suporte material fornecido pela natureza.

Um exemplo disso, em uma esfera um pouco acima da produção material em si, mas que, nem por isso deixa de ser determinante e determinada pela base material de uma região, é a sexualidade. Através do ato sexual molda-se toda uma estrutura familiar, social, religiosa. É comum, por exemplo, construirmos nossas vidas em torno do casamento, dos filhos gerados dessa relação ou até mesmo direcionarmos nosso comportamento dependendo da “opção” sexual para um relacionamento diferente do convencional (heterossexual), mas, completamente normal como o Homossexual ou o Celibato. Logo, o sexo é uma condição determinante da vida do povo de uma região. Essa interação sexual pode, entretanto, variar entre as diversas culturas que hoje existem no mundo e, até mesmo, se observarmos os registros históricos em torno desse tema, algumas formas já floresceram e se extinguiram de acordo com a necessidade material, que também variou no decorrer dos anos.

Outra forma determinante é a produção, vamos dizer, “dura”: aquela na qual encontramos os meios de produção, os recursos naturais e os produtos criados pelo homem para sobreviver nesse meio e transformá-lo de modo a manter a sua existência biológica. Aqui entram as máquinas, as ferramentas, os edifícios para a produção dos artefatos e de moradia; enfim, tudo isso não é, senão, a objetivação do trabalho do homem. É a materialização da ação do homem atuando no meio, de forma determinada por esse meio.

Pois bem, agora que já vimos sobre a teoria da cultura material, vamos à aplicação dos conceitos. Para citar alguns exemplos, podemos refletir sobre as festividades de nossa região e de nossa cidade. Primeiro exemplo: podemos fazer uma comparação da influência da cultura material entre as cidades de Pará de Minas e Papagaio. Nós observamos que a forma de produção da vida em nossa região – Pará de Minas – é mais dependente, pelo menos mais recentemente, da avicultura e atividades agropastoris do que em Papagaio, ao passo que, nesta última, desponta como principal atividade econômica a extração, beneficiamento e comercialização da pedra ardósia, um tipo de rocha metamórfica explorada em veios abaixo do solo. É comum então verificarmos que nas referidas cidades ocorrem variações da manifestação popular; enquanto temos em Pará de Minas as portentosas exposições: festa do frango e do peão, em Papagaio as manifestações giram em torno da famosa pedra azulada. Seria, prosseguindo com a análise, completamente diferente se em Pará de Minas fosse descoberto uma enorme jazida de minério de ferro, ou que durante a exploração da ardósia em Papagaio, fosse localizada uma enorme reserva petrolífera. Todo o modo de vida, as manifestações culturais, a maneira de ver o mundo, enfim, as produções materiais e mentais se alterariam, nestas cidades, com o tempo.

hegelO trabalho do grupo Projeto Resgate Histórico é tentar entender essas transformações, analisando os documentos antigos. Desta forma, o grupo atua dentro do campo da História da Cultura Material – quando analisa os inventários, quantifica a produção, o número de escravos, o que era mais consumido, o tipo de tração utilizada para o arrasto de materiais, etc.. Enfim, quando catalogamos e analisamos este aspecto da produção do homem de Pará de Minas do século XIX, estamos lançando uma luz para entendermos porque somos o que somos, como as coisas “evoluíram” – no sentido de passagem de um estado ao outro – para o estado de coisas atual, porque somos assim ou fazemos dessa maneira.

Finalizando, deixamos uma grande dúvida no ar: o embate de idéias de dois grandes pensadores: de um lado Georg W. F. Hegel (1770-1831), brilhante filósofo alemão, que afirma que “o homem é um ser de desejo”. De outro lado, o não menos intrigante e revolucionário Karl Marx (1818-1883), também alemão e morto na Inglaterra e, durante certo período de sua vida discípulo de Hegel, que diz: “o homem é um ser de necessidades”. A produção material molda o homem ou o homem molda a sua produção material?

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Projeto Resgate Histórico: Ana Maria Campos; Geraldo Rodrigues; Alaércio Delfino e Joandre Oliveira Melo. Contato: <!– var prefix = 'ma' + 'il' + 'to'; var path = 'hr' + 'ef' + '='; var addy13998 = 'resgatehistorico' + '@'; addy13998 = addy13998 + 'grnews' + '.' + 'com' + '.' + 'br'; document.write( '‘ ); document.write( addy13998 ); document.write( ” ); //–>\n resgatehistorico@grnews.com.br. Publicado na Coluna Projeto Resgate Histórico no Jornal Diário em 26 de maio de 2009.

<!– document.write( '‘ ); //–> Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. <!– document.write( '’ ); //–>

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